segunda-feira, 1 de agosto de 2011

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         Quase estática... Programada para as atividades vitais, o que inclui o trabalho. No silêncio, estamos e quando surge alguma frase, é no máximo: está frio, está quente. Ainda bem que existem elásticos e grampos. Ontem, tive um sonho. Nada demais, mas acordei bem. Às vezes a gente sonha e não se lembra, ou sonha um sonho aparentemente sem importância, mas acorda com uma sensação de bem estar sem algo a explicar, entende? Então, fiquei uns minutos assim...achando que o dia seria diferente. Engano. Logo, os enjoos voltaram e nem o colorido alaranjado do outono que a janela revelava fazia algo mudar. Uma vontade imensa de sair correndo. Mas pra onde? Enquanto isso, sei que não moves, será que pensas?






segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A vida de Estela

O plano de fundo da área de trabalho mostrava duas árvores, quase unidas, onde não se viam os troncos, mas galhos e galhos e galhos e folhas e folhas e folhas. Ao fundo, um largo rio e, na outra margem, mais verde e verde e verde. Fim de tarde, uma chuva fina, fina e fina. Estela virou-se e foi, sentada na cadeira com rodinhas, em direção à janela. Pessoas saíam do prédio que ficava logo a sua frente, em passos que pareciam mais largos e largos. A hora era ir embora. Uns em direção a outro expediente, a maioria em direção as suas casas, e os outros ela nem imaginava. E ela, ela nem imaginava. Aquele trabalho era pequeno, pequeno, pequeno, pequeno... Aquelas pessoas pareciam pequenas. Ela parecia mais pequena que todos os pequenos. Revirou-se e a tela do computador continuava a mesma. A mesa era a mesma. A sala era a mesma. O prédio era o mesmo. E ela era a mesma. Apoiou os cotovelos sobre a mesa. Apoiou a cabeça sobre as mãos estendidas. Acostumou-se em apoiar-se em si mesma.

terça-feira, 22 de junho de 2010

A noite debruçou palavras estranhas e entre um sussurro e um desacerto, você apareceu.
Engoli a sua respiração e não era tarde.
Agarrei seus olhos...
Suas mãos sopraram violetas e todo aquele rio caiu sobre nós.
Enquanto flutuava a esquina seguinte,
Descansei naquela nuvem e você esmagou o medo.
Se você cavar estrelas, eu acordo os passarinhos,
E talvez o nosso beijo espirre a cura.
Amanhã.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A vida de Estela

...
Quando acordou, ele já não existia.
- Adeus, Plutão.
O desarranjo por vir era uma certeza desprezível.
Desligou o abajur. Revolveu-se. Não quis alcançá-lo.
Que outra força gravitacional poderia os reunir?
- Às vezes se faz necessário partir, mesmo quando não se está pronto.
Contar consigo mesma era uma realidade presente.
- Artur, tem alguém chamando você no interfone! Meu filho, o que você vai hoje?
- Brincar.
- Ah...
Artur tomou o café da manhã como de costume e foi ao encontro dos amigos.
Estela parecia grudada na cadeira, olhava a mesa posta, enquanto apoiava o braço esquerdo sobre a mesa e a mão sobre o queixo. Dali, avistava um sábado de céu azul, ensolorado. Tudo parecia seguir o ritmo de sempre.
No máximo em dois dias teriam que se falar para a renovação da matrícula do Artur.
Detalhes burocráticos, ela sabia.
...
- Pelo menos, a luneta ficara.
...
Mais tarde, a noite prometia satélites.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A vida de Estela

...
Acreditava em muita coisa. Acreditava até que aquele político havia se tornado uma pessoa melhor. Ela gostava de acreditar. Era uma acreditadora. Ontem, acreditou que no final daquela tarde primaveril, conheceria alguém especial. Pensou em ir a alguma exposição. Imaginou que entre uma tela ou escultura, admirada com o que via, alguém ao lado faria um comentário em bom e quase alto tom, ela faria uma intervenção, daí surgeria um encontro para o resto de sua vida. Bem, não precisava ser para o resto de sua vida, mas para uma parte considerável dela, assim pensava.
- Sinto o conflito expresso no vermelho que ensanguenta a tela. - disse um homem qualquer.
- Engraçado, pois eu vejo vida, vida em abundância.
Bem que o encontro quase acontecera. Mas mal começara no ponto final do abundância. Estela desejara um abraço. Nem os livros que ela dava tanta importância, tiravam dela aquela vontade de afago. Não era chegada em bares, mas adorava cafés.
Em muito, há de se depender do outro e era, justamente, nisso que a vontade dela esbarrava.